Eu provavelmente guardarei um ou outro segredo, algum sentimento vago que insisto em esconder debaixo do meu próprio tapete. Assim, esqueço-me de que o tempo continua. Continua a sussurrar algumas respostas, fazer novas perguntas, criar novos problemas e brincar com outros sentimentos. Lentamente, ele muda os meus trejeitos - puxa a minha máscara.

Um pouco de amor, de música, de chuva e chocolate quente... E mais um pouco de amor.

"Pegue estas asas quebradas e aprenda a voar"

The Beatles - Blackbird

"Às vezes é bom olhar pra trás, já estamos tão longe - ganhamos tanto conhecimento... Mas a alegria não está onde estamos agora, a alegria está naquele que nos aguarda no final"

Sixpence None The Richer - Road to Zion

A xícara fria beija os meus lábios, as lágrimas quentes escorrem pelo rosto e mancham o papel escrito à tinta. A memória corrói, o coração palpita, a lembrança engaveta - arquivo morto.

"O vento anda ficando mentiroso: prometeu trazer você - não trouxe; de dizer o porquê - não disse (...) Aprendi a esperar."

Chão de Vento (Flora Figueiredo), p. 88.

E a quem me prendeu nesse vazio de mim peço que, por favor, traga-me um pouco mais de tristeza, pois não poderia haver melhor sobremesa após este jantar de desilusões.

Quanto mais eu me corrijo, mais eu me viro do avesso. Quanto mais tento resumir, mais isso se complica. Minhas palavras me traíram. Não mais escreverei.

"Onde está sua confiança, onde está seu coração, onde está sua alma? (...) Quem vai estar lá no final? Quem você pode chamar de amigo? Devemos começar a lamentar?"

Sonata Arctica - It Won't Fade

Deveria ser fácil de explicar, apenas não me encontro aqui e nem lá. Não sou deste nem daquele jeito, sou apenas... O que mesmo?

"As pessoas não são inteiramente boas ou más, não fazem apenas o certo e o errado. (...) Em outras palavras o bem e o mal estão dentro de nós. Lutando entre si, ganhando e perdendo terreno (...), é só o exercício de viver."

Desculpe a Nossa Falha (Ricardo Ramos), prefácio.

Eu não sei se mudei desde que me olhei no espelho pela última vez.
Não tenho consciência do tempo certo com que mudo do Azul para o Vermelho, com que cruzo a linha tênue da razão para a emoção. O meu relógio é inconstante, e nunca me lembro onde o deixei na última vez em que tentei abandonar o presente. Ou o passado. Ou o futuro.

Sempre que o procuro mais uma vez, ele está no meu bolso.

Num piscar de olhos volto às primeiras linhas, e reescrevo-as mudando completamente o contexto - tornou-se um diário íntimo. Mesmo que apenas uma pessoa continue o compreendendo. Eu.
Ainda que muitas vezes doesse, rabiscando alguns papéis foi que pude descobrir muitas das minhas verdades.
E sendo assim, continuarei sonhando com tudo aquilo que minhas linhas fantasiaram. E desejando tudo das entrelinhas também.
E caminhando no meu mundo.

Eu não sei se mudei desde que me olhei no espelho pela última vez.
Apenas continuarei escrevendo todas aquelas coisas sobre mim que eu sei, não teria coragem de admitir olhando para ele.

Aquele sonho tinha a forma de uma pequena garota, mas ela fugiu pelo jardim do tempo, e agora encontra-se em algum lugar do passado que eu não posso mais encontrar.

"(...) E eu vim me esforçando para achar as pessoas que não irei deixar para trás"

Sixpence None The Richer - I Just Wasn't Made For These Times

Aquela melodia derramara aos poucos todas as cores que, agora, escorriam ritmadas pelas paredes do quarto. Eu pude ver pintando-se sobre mim um céu com um sabor diferente, enquanto os acordes graves faziam meu coração bater no mesmo compasso da música. Pisquei novamente. Não havia ali nenhum som. Nenhuma cor. Era esse o exato momento em que meu mundo se chocava contra a realidade, e outra vez, desfragmentava-se.

"Um aperto no coração a avisou de que o futuro feliz que desejava (...) talvez nunca acontecesse. 'Se for necessário, lutarei contra o destino', jurou, enquanto uma lágrima escorria por sua face"

Tristão e Isolda (Adaptação de Helena Gomes), p. 78.

Eu fui deixado aqui. Ela apenas me esqueceu, mas confesso não me arrepender de, um dia, ter sido o melhor desejo que poderia nascer do pequeno coração dela. Sim, meu anjo, sou eu. Aquele amor antigo que você não deixou florescer. Não se preocupe, eu te desculpo por ter sentido medo, por não querer abraçar seus sonhos por pura imaturidade e por um ou outro devaneio. O seu adeus me machucou, mas eu não poderia contrariá-la. Adormeci no canto sujo em que você me jogou. Qual o sabor da vida sem mim? Espero não ter sido ruim, ouvi você chorar tantas vezes... Assim como faz agora. Os seus soluços me acordaram. Pensei em sair daqui e te abraçar, mas você trancou a porta tão bem que não me atreverei a tentar abri-la. Não me atreverei, minha querida, só você pode fazê-lo.
(Texto pessoal em "homenagem" a um amigo meu. Minha frustração com palavras, espero que entendam.)

Um desejo íntimo quase escorre pelos meus lábios, mal consigo o engolir a tempo. Brotando de um anseio que não poderia existir, ele deveria ser apenas um pedido insensato e jamais ter dado frutos, porém agora ele está a preencher com generosidade a árvore da perdição.
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100º post. we/